“Xadrez é guerra no tabuleiro. O objetivo é fundir a mente do oponente”
A Universal Pictures, juntamente com algumas parcerias, recentemente anunciou a contratação de Kevin Macdonald (que dirigiu “O Último Rei da Escócia”) para ser o diretor do drama “Bobby Fischer goes to war”, ou “Bobby Fischer vai à guerra” numa tradução livre.
O filme vai girar em torno do Match (conjunto de partidas) entre o norte-americano Bobby Fischer e o russo Boris Spasky valendo o titulo mundial. Seria normal para aqueles que desconhecem o xadrez e Fischer perguntar: Mas por que pode vir a ser tão interessante um filme sobre algumas partidas de xadrez?! É exatamente isso que pretendo responder nas linhas abaixo no intuito de convencer o maior número de pessoas possível que esse projeto tem tudo pra se transformar em um grande filme. De forma resumida, essa resposta pode ser dada em duas palavras: Política e genialidade.
Situemos-nos, primeiramente, historicamente. O embate ocorreu em 1972, auge da guerra fria que ficou conhecida por dividir o mundo em dois blocos: os EUA e seus aliados políticos e a extinta URSS, formada pela Rússia e um pouco mais de uma dezena de outros países socialistas. Levando em conta as nacionalidades dos dois jogadores (americana e russa), é fácil deduzir a dimensão que esse match, que foi realizado em Reykjavik (capital da Islândia), tomou. A URSS já havia monopolizado o esporte durante três décadas antes de Fischer e continuou com sua hegemonia ainda três décadas depois. Fischer foi o suspiro do ocidente. Certa vez Bobby Fischer chegou a declarar: “Realmente é o mundo livre contra a mentira, trapaça e hipócritas russos”.
Infelizmente, uma das maiores mentes do século passado, foi da genialidade à loucura muito rapidamente. Era rude quando queria (e parece que quase sempre queria), extremista em suas opiniões, anti-semitista, odiava Judeus (sua mãe era judia), acreditava que tudo se baseava em conspirações governamentais e muitas outras coisas que tornou Bobby Fischer o orgulho e a tristeza da nação enxadrista. Suas exigências também atingiam o absurdo. Não jogava a menos que as peças fossem opacas e a iluminação indireta, a cadeira também deveria ser de um formato específico e o primeiro jornalista deveria estar à uns bons metros de distância.
Após uma carreira brilhante e surpreendente, conquistou o título de campeão mundial em 1972 e, após isso, quando o mundo achou que tinha se acostumado e parado de surpreender-se com suas excentricidades, Fischer fez o lance mais surpreendente de toda a sua vida: Desapareceu! Por muitos anos Fischer só dava as caras quando ele queria. Passou por vários países e muitos mitos sobre seu destino apareceram na forma de rumores na época. Alguns diziam que ele havia morrido, outros que ele enlouquecera de vez e jogava xadrez em pracinhas de países menos conhecidos. Fischer perdeu seu titulo de campeão do mundo em 1975, pois não compareceu para defender seu posto contra Anatoly Karpov (russo). Em 2004, Fischer foi preso em um aeroporto no Japão por tentar viajar com um passaporte revogado pelos EUA.
Ele foi ameaçado de extradição para os Estados Unidos pra receber a punição por ter violado a sansão imposta à Slobodan Milosevic, então líder da Iugoslávia, jogando no país um rematch contra o mesmo Spassky por algo entorno de dez milhões de dólares. Em 17 de janeiro de 2008, Fischer faleceu na mesma cidade que em 1972 foi palco de um dos maiores confrontos enxadrísticos da história.
Acredito que um dos maiores desafios do diretor será mostrar o tamanho de suas proezas para um público que não conhece a profundidade do xadrez. Toda uma vida (literalmente) não é suficiente para se ter domínio de todos os aspectos do jogo, tamanha a dimensão de sua teoria. O talento de Kevin MacDonald para retratar figuras excêntricas, daquelas que se ama ou odeia, já foi testado e comprovado no seu filme “O Último rei da escócia” onde mostra a história de um ditador.
Pouco se sabe sobre o desenvolvimento da película. Além de Macdonald na direção, o roteiro será realizado por Shawn Slovo ("Em Nome da Honra"). A história será baseada em um livro de autoria de David Edmonds e John Eidinow. A produção está agendada para iniciar no final de 2008. Até lá, nomes no elenco e na equipe técnica devem ser adicionados.
Gostaria enormemente de ver Leonardo Di Caprio no papel principal desse filme. Acho que talvez ele seja o único capaz de retratar esse tipo de personalidade com tamanho realismo, uma vez que o personagem principal do filme lembra muito o Howard Hughes que ele interpretou em “O aviador”, no que diz respeito ao estilo bonito-gênio-louco. Mas ainda não foi divulgado nem sequer o tamanho da produção de “Bobby Fischer goes to war”, então não sabemos nem mesmo detalhes do orçamento do filme.
Macdonald atualmente está envolvido com as filmagens de "State of Play", baseado em uma minissérie do canal britânico BBC e que narra a investigação de um jornalista sobre a morte de uma jovem, amante de um poderoso político.
Poderia ficar horas e horas dissertando sobre como a história de Fischer daria um bom filme mas espero ter atingido meu objetivo principal nesse texto que era de trazer o maior número possível de olhos para esse projeto e não só os fãs de xadrez. Bobby Fischer tem história suficiente para virar um filme do nível e formato de “Uma mente brilhante” ou “O aviador”, ambos sucessos de bilheteria e exemplos de bom filme.
Por último, reproduzirei abaixo uma carta escrita pelo próprio Fischer quando uma revista local pediu ao mesmo para que se apresentasse, se descrevesse, dias antes do campeonato mundial de 1972, tema principal do filme. Acredito que esse texto mostre toda a sua genialidade, perseverança assim como sua loucura e o quanto ele podia ser rude e convencido.Veja a carta
Artigo extraído de: http://cinemmus.blogspot.com
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