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domingo, 25 de maio de 2008

Carta

“Sou um especialista, jogo xadrez. Isso é uma coisa séria. Outra coisa não sei fazer, mas tudo o que sei eu domino a fundo. Nasci em Chicago, 9 de março de 1943. Serei campeão mundial. Se Spassky, o atual campeão, não tem medo de mim, tampouco eu tenho medo dele. Vim a Europa como em outros tempos veio Paul Morphy. Ele era de Nova Orleans e jogou como um gênio derrotando a todos os mestres europeus. Quando voltou para a América, morreu de desgosto e frustração. Meu objetivo é bater o recorde de Emmanuel Lasker, que reteve o titulo durante 27 anos. Necessito de muito descanso e uma boa iluminação.
Em especial, não tolero nenhum ruído que me distraia em meu trabalho de calcular e combinar. Onde mais gosto de jogar é na Iugoslávia. As pessoas gostam de mim e até escrevem cartas. Os dez mil dólares oferecidos para a final eu considero muito pouco. Deve-se pagar melhor aos grandes mestres. Não quero me contentar com presentes pequenos. Trabalho todo um mês, enfrento mestres fortes e experimentados e a FIDE me paga 750 dólares. Fiquem então com o dinheiro ou joguem-no na água! Esforcei-me muito na vida para ser algo. Hoje já sou alguém, amanhã serei ainda mais conhecido. Meu objetivo é que no planeta não exista ninguém que mova as peças de madeira melhor que eu. Meu pai abandonou minha mãe quando eu tinha dois anos. Nunca o vi. Minha mãe disse apenas que se chamava Gerhard e era alemão. Ela era educadora num internato suíço.
Vivíamos no Brooklyn, onde minha mãe procurou para mim um professor de xadrez. Quando aos 13 anos, pude derrotar Donald Byrne em uma brilhante partida e me senti orgulhoso ao ler nos jornais: quando um menino faz tais jogadas, algo surgirá disso. Estudei a língua russa para poder me informar melhor sobre a teoria do xadrez.
Na América, ninguém pode ser comparado a mim: fui oito vezes campeão nacional, o que já me resulta
em desmotivação. A única coisa que não me desmotiva é ver meu saldo bancário aumentando. Algum dia, serão meus o automóvel mais caro e a casa mais bonita. Xadrez me causa prazer e pode me proporcionar dinheiro. Botvinnik escreveu que calculo melhor que os demais. Disse que sou um computador, um homem prodigioso e que fui um menino prodígio. Aqui não existe prodígio algum. Sou apenas um estudioso. Jogo xadrez todos os dias. Aprendo e procuro melhorar meus conhecimentos. Agora, todos esperam de mim que ganhe sempre. Aos jornalistas é desagradável que uma partida termine em empate. É algo que ataca os nervos. Não sou como Petrossian ou Korchnoi que concordam em empatar com 12 jogadas. Continuo até ficar com o rei sozinho. Sei o que quero. Os meninos que tiveram que crescer sem pai logo são como lobos. Meu mundo é o tabuleiro preto e branco de xadrez. Em minhas jogadas, procuro movimento e arte ao mesmo tempo. Quem não consegue ver isso me da lástima. Robert James Fischer não é nenhum computador como alguns querem pensar. Sou meramente um homem,mas um homem extraordinário. Aos 15 anos era Grande Mestre, aos 16, campeão americano, com 28 sou o jogador mais forte do mundo e com 29 serei oficialmente campeão mundial. Meu programa para o futuro está claro. Não cometerei o mesmo erro de Sousse, nem abandonarei o campo de batalha. Carecia de experiência e era demasiado susceptível. Agora sou forte como um muro e frio como um Iceberg."

Artigo extraído de: http://cinemmus.blogspot.com

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