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terça-feira, 27 de maio de 2008

Projeto usa xadrez como inclusão social

Iniciativa, que começou com a idéia de integrar 5 portadores de deficiência, recebe apoio do Instituto Guga Kuerten

Mauro Meurer
Especial para o ANC

Xeque-mate na discriminação, na exclusão social, na ociosidade, na falta de raciocínio e na preguiça mental. Graças a um projeto voluntário e revolucionário do professor Márcio Aurélio Vieira, 35 anos, crianças e adolescentes do colégio estadual professor Benonívio João Martins, de Palhoça, estão aprendendo a jogar xadrez. Mais do que isso, elas estão desenvolvendo raciocínio lógico, concentração e "até estratégias de modo de vida", como observa Márcio, professor de educação física do colégio desde o ano 2000. "O xadrez impõe regras e as crianças, antes impulsivas, começam a se concentrar mais."
O projeto "xadrez como instrumento educacional e fator de inclusão" foi desenvolvido por Márcio a partir da necessidade de integrar cinco portadores de deficiência física do colégio às aulas de Educação Física. "Temos cinco cadeirantes com necessidades especiais que estudam no colégio e participam dos jogos de xadrez", explica o professor.
Com apoio da Associação de Pais e Mestres da escola, da direção do colégio e da Univali de São José, onde Mário estuda Comércio Exterior e é bolsista do artigo 170 e por isso faz o trabalho voluntário em Palhoça, o projeto do xadrez como inclusão social decolou até bater nas portas do Instituto Guga Kuerten (IGK). Agora, com a verba recebida do instituto, de R$ 19,8 mil, a escola - que fica no Brejaru, Jardim Eldorado - está construindo uma sala para desenvolver melhor o projeto. Em 40 dias o novo prédio estará pronto, com um tabuleiro gigante, dois banheiros para atender portadores de deficiência e um palco. No futuro, um segundo piso será erguido para um laboratório de informática e uma biblioteca.
Oficialmente chamada de sala de meios, a "salinha do Guga" é realmente especial. Num primeiro momento, vai integrar 15 monitores e 187 alunos da escola Benonívio. Depois, todos os alunos devem ser beneficiados. Também a comunidade do bairro está sendo chamada a participar. Alguns já aprenderam a jogar xadrez faz algum tempo. A própria comunidade ajudou doando o terreno, anexo ao colégio, onde a sala para o xadrez está sendo construída. Semana passada, Alice Kuerten, presidente do IGK e mãe do tenista, esteve no local. Alunos e professores esperam agora pela visita do próprio Guga.
A história do xadrez na escola Benonívio João Martins começou, faz dois anos, de maneira muito artesanal. O professor Márcio Aurélio Vieira mostra, com orgulho, cabos de vassouras cortados que deram forma a peões, bispos, torres, reis e rainhas. Tabuleiros improvisados e muita boa vontade fizeram o xadrez crescer na escola. Ano passado, houve campeonatos internos e alguns alunos até participaram dos Jogos Escolares de Palhoça.
O tabuleiro gigante, para o xadrez humano, já existe no colégio. Fica ao ar livre e ensina os alunos de Márcio a terem melhor rendimento. "Com peças gigantes, no caso as crianças fazendo às vezes das peças, os alunos ficam mais atento a todas as jogadas", explica o professor. Como o aluno pode ser rei ou rainha em um dia, torre ou cavalo em outro, além de peão e bispo, o aprendizado fica facilitado.
Com o dinheiro do Instituto Guga Kuerten, além da sala em anexo, o colégio comprou 20 jogos de xadrez, quatro relógios, dois tabuleiros chamado de lógicos, para o ensino-aprendizagem, e babeiros que identificam cada peça do jogo no xadrez humano.


Clique aqui para ver alguns exemplos.


Tabuleiro desenvolve concentração
O garoto César Roberto da Rosa ficou sem os movimentos nos membros inferiores aos 2 anos. Hoje, aos 13, é um disciplinado aluno de xadrez. As marcas psicológicas da deficiência ele não esconde. Foi vítima de uma violência. A polícia procurava o pai dele e acabou disparando um tiro que foi se alojar na coluna do menino. Na cadeira de rodas, César troca o futebol pelo xadrez. Não gosta muito de conversa, apresenta timidez, mas o professor Márcio Vieira diz que o garoto "está perfeitamente" integrado ao projeto do xadrez.
"Ele se faz de quietinho, mas é muito ativo", diz Márcio.
"Esporte não é só correria, é também trabalhar com a mente", diz a diretora da escola Benonívio Martins, Adealci Blum Weingartner. "O xadrez tem desenvolvido concentração e raciocínio nas nossas crianças", destaca Adealci.
Rogério Santos da Costa, coordenador de extensão da Univali São José, diz que a instituição foi apoiadora do projeto junto ao Instituto Guga Kuerten. Perto de 400 alunos, semestralmente, são beneficiados com o artigo 170 e recebem bolsa de estudo do governo, precisando dar a contrapartida em trabalhos voluntários. Pelos menos dez desses trabalhos, em média, são referência para as comunidades. O do xadrez, do professor Márcio, estudante da Univali, é um deles.
Dariu, Renato e Cleiton são três dos 187 alunos beneficiados pelo programa de xadrez neste primeiro momento na escola do Jardim Eldorado. Cleiton Rocha Sartor, 12 anos, está aprendendo. Renato Hack Ivo, de 12, até já disputou os Jogos Escolares de Palhoça. Sobre o xadrez humano, diz que "é mais fácil de aprender, porque temos uma noção melhor de cada peça", ensina o menino. Dariu Aquino Soares Filho, de 14 anos, concorda. Faz xadrez desde os 8 e diz que "é muito legal porque temos sempre a oportunidade de disputar campeonatos". (MM)

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