Por Hindemburg Melão Jr.
Jesse Livermore é o maior ícone da história de Wall Street. Saiu de casa aos 14 anos, com 5
dólares no bolso, e foi trabalhar numa corretora. Graças a seu notável talento natural, em
pouco tempo se tornou um dos investidores mais bem sucedidos da história. Em 1907 reuniu
uma fortuna de 3 milhões de dólares. Antes da quebra de bolsa de Nova Iorque, em 1929,
Livermore tinha 100 milhões de dólares, o que o situava entre os homens mais ricos do mundo
na época. Ao longo de sua vida, conquistou e perdeu 4 vezes fortunas multimilionárias. Em
1940, após sua última perda, suicidou-se. Livermore deixou um legado bibliográfico que é
seguido por muita gente, e uma de suas frases mais famosas é: “A chave para a fortuna no
mercado é a simplicidade.” Esta frase tem sido repetida tantas vezes, sem ser submetida a
uma avaliação crítica, que se tornou um dogma. Até aí, não há grandes problemas, porque na
Ciência, na Arte, no Esporte e nos Negócios a simplicidade realmente é muito importante,
desde que compreendida corretamente. Antonio Ermírio de Moraes, por exemplo, costuma
dizer que “o último degrau da sabedoria é a simplicidade”. O maior artista marcial do século
XX, Bruce Lee, dizia que o segredo de sua técnica era a simplicidade. Um dos maiores
enxadristas de todos os tempos, José Raúl Capablanca, foi também um dos jogadores de estilo
mais simples da história. O que isso tudo nos diz? A resposta é: nada. Isso não nos diz nada.
Kasparov tem estilo complexo e tem rating histórico superior ao de Capablanca. Alekhine tinha
estilo complexo e tomou o título mundial de Capablanca. Bill Gates é o homem mais rico do
mundo graças a vários fatores combinados, alguns dos quais muito complexos. Várias grandes
invenções e descobertas envolvem um nível muito alto de complexidade. As pessoas
geralmente confundam simplicidade com simploriedade, o que constitui um erro muito grave.
Além disso, as pessoas geralmente não possuem uma boa escala de valores e se perdem ao
estabelecer quais prioridades devem ser seguidas. É muito importante compreender
corretamente o conceito de simplicidade e o quanto se deve priorizá-la. Quando duas soluções
conduzem a resultados aproximadamente equivalentes, geralmente é melhor optar pelo
caminho mais simples. Mas quando uma das soluções conduz a um resultado sensivelmente
melhor, não importa qual dos caminhos é o mais simples, deve-se buscar a solução mais
eficiente. Em outras palavras, a simplicidade é um bom critério complementar, porém não é o
principal. Quando se trata de negócios, a eficiência deve ser o segundo critério mais importante,
sendo sempre a Ética o primeiro de todos os critérios.
O culto à simplicidade tem muito mais chances de causar desastres do que conduzir ao
sucesso. A simplicidade deve ser buscada na medida certa, nas ocasiões certas e da maneira
certa. O excesso de simplicidade denuncia falta de competência para reconhecer situações
que exigem soluções complexas, falta de capacidade para lidar com a complexidade e falta de
coragem para enfrentar os desafios mais difíceis.
Se comparamos a maneira como se jogava Xadrez no século XV à maneira como se joga hoje,
perceberemos que uma das diferenças mais marcantes diz respeito à quantidade padrões
conhecidos e à relevância comparativa destes padrões. No século XV, não se compreendia
corretamente conceitos como domínio do centro, desenvolvimento e estrutura de Peões. Só se
compreendia o conceito de segurança dos Reis e se jogava para atacar a todo custo, sem que
houvesse justificativas estratégicas que respaldassem os ataques, não havia o processo
preliminar de debilitar a posição inimiga e de criar alvos reais de ataque. Simplesmente se
atacava por “vontade” de atacar, pouco importando se esta vontade se fundamentava em fatos
concretos pertinentes à configuração das peças e à estrutura dos Peões. No início do século
XVII, com Gioacchino Greco, começou-se a compreender a importância do centro. No século
XVIII; com Philidor, começou-se a compreender a importância das estruturas de Peões; com
Morphy, em meados do século XIX, começou-se a compreender corretamente o conceito de
desenvolvimento, economia de tempo e atividade de peças; com Steinitz, no final do século
XIX, houve uma síntese destes conceitos e foram lançadas as bases do jogo posicional; com
Reti, Nimzowitsch e outros mestres das primeiras décadas do século XX, surgiram novos
conceitos sobre domínio (à distância) do centro, complementando os conceitos tradicionais de
ocupação do centro, e foram refinados vários outros conceitos antigos. Com isso nasceu o
Xadrez Hipermoderno. Com Keres, Tal e Kasparov, na segunda metade do século XX, a
compreensão da relação entre tempo, espaço e material atingiu um grau elevadíssimo, levando
à criação de numerosas novidades teóricas envolvendo pesados sacrifícios de material em
troca de espaço e tempo. Estavam assentadas as bases do Xadrez contemporâneo e se podia
dizer com razoável exatidão se uma Torre a menos equivalia ou não a determinado conjunto de
pequenas vantagens posicionais. Isso possibilitou a criação de algoritmos de inteligência
artificial que convertiam as avaliações subjetivas em números, e desse modo o Xadrez pôde
ser “ensinado” aos computadores. Até então, os computadores usavam heurísticas muito
primárias. Nas décadas de 1950 e 1960, os processos de seleção de lances eram muito
primitivos e geralmente excluíam alternativas (algumas boas ou até as melhores) com base em
análises muito superficiais e critérios impróprios. Nas décadas de 1970 e 1980 os sistemas de
seleção se tornaram mais inteligentes e nas duas últimas décadas foram dados gigantescos
saltos. No início do século XXI, a mais poderosa entidade enxadrística já construída, a Hydra,
representa o que talvez seja o primeiro dos últimos passos na história do Xadrez: com um
algoritmo que reúne a nata dos conceitos estratégicos vigentes e um excelente reconhecimento
de padrões, cujas importâncias são balanceadas de acordo com requintados critérios
estatísticos, pode-se dizer que começamos a nos aproximar ao topo da compreensão dos
fundamentos do Xadrez, pois agora podemos dizer, com grande exatidão, quanto valem,
numericamente, padrões como Peões dobrados e isolados numa coluna semi-aberta, quanto
valem dois Peões centrais móveis e colgantes, quanto vale uma cadeia de 3 peões passados e
unidos contra Torre, contra Bispo bloqueando os Peões, contra Bispo não bloqueando os
Peões etc., quanto vale ter um Bispo contra um Cavalo num final com Peões nas duas alas em
estrutura simétrica ou assimétrica, quanto vale ter maioria na ala afastada dos Reis numa
posição equilibrada de meio-jogo, entre milhões de outros padrões complexos que são
formados pela combinação de algumas poucas dezenas de padrões primários. Sabemos que
basta ter um pequeno conjunto de padrões primários e um algoritmo eficiente e bem calibrado,
capaz de calcular corretamente como os padrões primários se combinam para formar padrões
mais complexos, para com isso atingir a excelência performática. A Hydra, que em junho de
2005 venceu o Super GM Michael Adams (ELO 2747) pelo avassalador escore 5,5 x 0,5,
alcançando ELO acima de 3000, nada mais é do que uma máquina que usa estes padrões
primários e um bom algoritmo. Não é nem sequer o melhor algoritmo. A maioria dos
especialistas (inclusive o próprio criador da Hydra) concorda que o Shredder 9 provavelmente é
a engine que usa as melhores heurísticas da atualidade, seguido, talvez, pelo Fritz Bilbao. A
Hydra talvez tenha apenas um dos 10 melhores algoritmos, mas já é folgadamente suficiente
para bater os melhores humanos do planeta.
O que observamos na Bolsa de Valores nos dias de hoje é muito semelhante à situação do
Xadrez no século XV. As ferramentas e os critérios para apoio aos processos decisórios são de
qualidade muito baixa, tão baixa que usando dois métodos diferentes, ambos supostamente
bons para analisar um mesmo ativo numa mesma data, é freqüente que os dois métodos
entrem em conflito, um recomendando compra e outro recomendando venda. Se houvesse o
mínimo de cientificidade nestes métodos, seria esperado que houvesse univocidade nos
prognósticos, ou, no mínimo, seria esperado que não houvesse contradições tão gritantes. No
Xadrez do século XV assim como na Bolsa moderna há muitos pontos em comum, e o excesso
de simplicidade é um destes pontos. No Xadrez se pensava assim: se o objetivo é o xequemate,
vamos iniciar o jogo empreendendo um ataque direto ao Rei. O que poderia ser mais
simples do que isso? A experiência de 500 anos de algumas das mentes mais privilegiadas do
planeta demonstrou que não funciona desta maneira. O ataque direto ao Rei só faz sentido
depois que se tiver conseguido reunir um conjunto suficiente de pequenas vantagens
posicionais, sem as quais o ataque estará fadado ao fracasso e ainda por cima resultará em
posição inferior, como demonstrou Steinitz há mais de 100 anos. No Mercado de Ações, o
objetivo é comprar o que vai subir e vender antes de despencar. E como uma das premissas
fundamentais da Análise Técnica é que as “tendências persistem”, então compra-se o que está
subindo e vende-se o que está caindo. Não é de todo errado, mas é muito primário e não se
pode usar isso como uma Lei Geral. Há muitos fatores a serem analisados para que se possa
estimar corretamente as probabilidades de que uma determinada tendência seja mantida ou
invertida e durante quanto tempo e em que escala de fragmentação a tendência terá o
comportamento previsto. É preciso compreender a totalidade das informações que o gráfico
está transmitindo para determinar com segurança o que irá acontecer.
Os métodos de análise do Mercado de Ações mal saíram do berço e os analistas estão com
um pé prestes a entrar na Ciência, enquanto o resto do corpo ainda permanece atolado num
esoterismo medieval. Só há pouquíssimo tempo é que se começou a usar Redes Neurais e
Geometria Fractal para predizer o comportamento dos preços, e o uso ainda está sendo feito
num nível muito precário, geralmente com Redes Neurais desprovidas de conteúdo heurístico
(usa-se apenas força bruta), ou, na melhor das hipóteses, com heurísticas tão rústicas que
provocariam risos nos desenvolvedores de engines de Xadrez da década de 1970. Os que
usam fractais geralmente levam em conta apenas as maiores escalas de fragmentação dos
maiores fractais (ou pseudofractais, para ser rigoroso), sem usar Análise Fatorial Hierárquica e
Nuvens Dinâmicas para aproveitar informações sobre entrelaçamento com fractais de diversos
tamanhos e diversas escalas de fragmentação. Isso sem falar na fé cega que se costuma
depositar em que o mercado inteiro se comporta formando padrões nos quais se possa
encontrar a razão áurea de Fibonacci. De fato, na natureza podemos observar proporções de
Fibonacci com mais abundância do que outras proporções, mas isso não significa que sempre
teremos uma relação de Fibonacci. Se estamos trabalhando com uma miscigenação de
pseudofractais em que emergem características que denotam curvas de Kock, por exemplo,
que são muito abundantes nos gráficos de preços, as proporções de 0,667 são muito mais
exatas do que 0,618033... Logo não faz sentido usar Fibonacci nestes casos, e o erro de quem
insiste em usar Fibonacci causa-lhes graves prejuízos. Por isso é fundamental que se saiba
onde se está pisando, em vez de dogmaticamente confiar na lenda de que usando Fibonacci
se conseguirá predizer proporções em toda parte. A razão harmônica de Fibonacci é uma
generalização exacerbada que só tem utilidade para pessoas que conhecem apenas o mínimo
e têm preguiça de aprender mais, pois querem lucrar algo com este mínimo de conhecimento,
e tentam encaixar, à força, os níveis de Fibonacci em qualquer lugar, pouco importando se o
encaixe é possível ou não. Quando se encaixa mediocremente, trabalha-se fingindo que se tem
ali uma proporção de Fibonacci, e se faz um cálculo grosseiro, alcançando um nível igualmente
grosseiro de acerto, ao passo que se poderia refinar muito o cálculo usando a proporção
verdadeira, medida experimentalmente, e ajustando-se a estes dados um modelo teórico
apropriado. Quando Fibonacci não se encaixa de jeito nenhum no gráfico dos preços, renunciase
a operar com aquela ação “exótica” por não se conseguir compreendê-la, desperdiçando,
com isso, extraordinárias oportunidades de ganhos gigantes, simplesmente por falta de
conhecimento. É um erro crasso usar Fibonacci como uma panacéia para todos os problemas,
mas é isso que fazem praticamente todos os analistas, desde o estudante de Economia até o
professor emérito que está há décadas ensinando errado a seus alunos de pós-doutorado. Por
analogia, é como alguém que usa um martelo para tudo, desde pregar pregos, que é uma
utilidade legítima, até abrir latas de ervilha, colocar parafusos e limar facas. Para quem
conhece chaves de fenda, abridores de lata e esmeril percebe que não se pode usar martelo
para tais finalidades, ou melhor, não é que não se pode, mas isso não seria muito inteligente ☺.
Por outro lado, quem não conhece nenhuma ferramenta além do martelo pode optar entre as
seguintes alternativas:
1 – Aprender a usar outras ferramentas mais apropriadas.
2 – Usar o martelo, mesmo ele não sendo a ferramenta adequada, com prejuízos óbvios.
3 – Renunciar ao problema, dando-o por insolúvel, pois pensam que se o problema não pode
ser resolvido com martelo, é porque nada no universo pode resolver tal problema. ☺
O Fibonacci é o martelo do Mercado de Ações. Por sua simploriedade e pela facilidade de uso,
o “Fibo” – como chamam os que se consideram mais íntimos – conquistou grande popularidade,
pois com os softwares atuais, basta ter a coordenação motora necessária para mover o mouse
e clicar nos botões para que se possa desenhar retas e níveis de Fibonacci. Não há nenhum
mal nisso. Outras ferramentas mais complexas e muito mais eficientes também estão ao
alcance de todos com apenas manuseio do
mouse. O problema é que os softwares de
análise de mercado não incorporam estas
ferramentas. Mas por que não? Eu ainda não sei.
Pelo que pude apurar até agora, os que
produzem softwares não têm interesse em
investir, mas apenas em lucrar com venda de
softwares, e para eles não há necessidade de
oferecer nenhum recurso além daqueles que os
clientes possam esperar encontrar. Se os clientes
estão satisfeitos com Candle Sticks, Médias
Móveis e Fibonacci, para que incluir outros
recursos? E, do ponto de vista dos clientes, se
Livermore ensinava que se deve buscar a
simplicidade, é claro que isto deve ser acatado, e
o que poderia ser mais simples do que traçar
retas? É isso. Mas para que não ficasse tão
ridiculamente simples, os seguidores desta
doutrina inventaram numerosos rituais, alguns tão
sofisticados quanto os da Igreja Católica, e por
meio destas cerimônias acreditam conferir mais
poder e legitimidade ao uso destas ferramentas, com destaque para os níveis de Fibonacci.
Seguem estes rituais à risca, com instruções do tipo: “quando
romper a resistência de R$ 35,67 eu compro, e quando atingir a o
nível 61,8% eu vendo.” E lá se vai o pobre coitado, com sua fé
inabalável, em busca do Santo Graal. Algumas vezes realmente
funciona, já que algumas estruturas geométricas que determinam a
forma dos gráficos dos preços realmente se baseiam em
proporções de Fibonacci, então estes fanáticos religiosos
comemoram, extasiados, o sucesso de 60% a 80% de acertos,
sem procurar compreender porque estão errando em 20% a 40%
dos casos e sem tentar melhorar estes índices de acertos. Uma
completa apologia à tradição burra e à repetição mecânica. É o
triste conformismo com a mediocridade, é o medo do crescimento.
Em contraste, quem tem ambição de prosperar, quem tem real
interesse em lucrar o máximo possível, expande seus horizontes,
em vez de se limitar ao uso de Fibonacci, e com mais
conhecimentos se torna capaz de reconhecer uma variedade muito maior de padrões, além de
refinar tremendamente o cálculo e conseqüentemente aumentar o índice de acertos, pois terá à
sua disposição um farto leque de possibilidades, entre os quais poderá escolher aquele que
melhor se ajusta aos fatos observados. Onde se encaixam com boa aderência fractais
semelhantes a uma curva de Koch (porém com apenas um y para cada x, é claro), é óbvio que
é melhor usar uma proporção de 0,667 em vez de 0,618 [para evitar multiplicidade de valores
de y para cada x, além de obter melhor aderência, é suficiente que a curva de Koch seja
proveniente de uma superfície Riemanniana, com coordenadas polares, e seja representada
num plano por uma projeção de Mercator]. Onde se encaixa o contorno de uma ilha de
Sierpinski com boa aderência, é óbvio que a proporção deve ser 0,5 em vez de 0,618 e assim
por diante. Antes de tentar enfiar um Fibonacci em qualquer lugar, é necessário verificar se ele
cabe corretamente, ou seja, é necessário conferir se a razão áurea de fato está presente no
caso analisado, ou se alguma outra relação de proporção seria mais apropriada para aquele
caso. É preciso investigar a realidade tal como ela é, examinando os fatos, em vez de
simplesmente fingir que a realidade é exatamente como nos contos de fadas estudados nas
cartilhas. Nos textos didáticos sobre investimentos, todos os exemplos são escolhidos a dedo
para demonstrar que Níveis de Fibonacci, Índice de Força Relativa, Ondas de Elliot, Bandas de
Bollinger e Médias Móveis funcionam maravilhosamente. Não é culpa dos autores destes livros.
Em todo livro didático é preciso escolher exemplos claros em que as coisas funcionam como
deveriam, a fim de tornar o aprendizado mais fácil. O erro não é dos autores, mas sim de quem
lê e acata cegamente, como algo absoluto e imutável, sem compreender nada e sem submeter
a técnica a um exame crítico. Algumas questões muito simples podem ser úteis nestes casos: o
método funciona? Por quê? Como? Qual o âmbito de aplicação? De que modo poderia
funcionar melhor? De que modo poderia funcionar em casos mais gerais ou mais particulares?
Estas são perguntas pertinentes, necessárias, que todos deveriam fazer, mas pouquíssimos
efetivamente fazem.
Para operar com sucesso no Mercado é imprescindível compreender o que se está fazendo e
porque se está fazendo daquela maneira, caso contrário, fica-se impossibilitado de corrigir
eventuais distorções e revisar ou refinar uma decisão inicialmente incorreta ou imprecisa. A
esmagadora maioria dos profissionais da área opera como se os deuses (“tubas”) ditassem
seus destinos, de modo imprevisível e misterioso, enquanto os pobres mortais apenas poucas
vezes pudessem predizer o futuro, usando astrologia e algum golpe de sorte. Se o tamanho de
uma oscilação não é conforme previsto pelo uso de Fibonacci, a explicação é óbvia: “isto é
coisa dos tuba!” A explicação é sempre a mesma. Toda vez que o martelo (Fibonacci) não
funciona para descascar uma laranja, a culpa é dos tuba. Talvez alguém pudesse cogitar a
possibilidade de usar uma ferramenta melhor para descascar a laranja. “Oh, não!” Pensam os
conservadores. “Isto seria heresia! Se todos os grandes sábios do Mercado estão usando
Fibonacci há tantos anos, e todos sabem que quando Fibonacci não funciona, é por culpa dos
tuba, para que precisamos de outra ferramenta? Para que precisamos de outra explicação?” E
assim permanecem enterrados até o pescoço em suas crendices, nutrindo-as com vãs
explicações baseadas em deuses que manipulam o mercado e cujas intenções são
imprevisíveis. Realmente, com as ferramentas que se usam no Mercado, não se está muito
longe da mitologia grega, mas se fossem usadas ferramentas e métodos apropriados, poderse-
ia atingir um nível muito mais elevado de acertos. Claro que mesmo com excelentes
ferramentas não haveria como fazer previsões exatas, mas ao menos seria possível diminuir
muito a incerteza e aumentar muitíssimo os lucros. E o melhor método que posso conceber
para isso guarda íntima relação com os processos cognitivos que norteiam a escolha dos
melhores lances no Xadrez. Processos decisórios politômicos ou politomizados em situações
complexas podem variar na aparência, mas são basicamente iguais na estrutura lógica
subjacente. Tanto faz se o problema é administrativo, científico, enxadrístico ou econômico, as
heurísticas usadas para solucioná-lo são, na essência, praticamente as mesmas. A Lógica e a
Criatividade não servem apenas para inventar a televisão e o computador, ou para compor
poemas e canções. Servem para praticamente tudo. Todo problema, especialmente aqueles
que envolvem números, gráficos, variações complexas dos números em função de numerosos
parâmetros, podem ser minuciosamente investigados, compreendidos e solucionados à luz da
Lógica e da Matemática, podendo ainda ser enriquecidos com o brilho da Criatividade.
Tenho observado uma extraordinária semelhança entre Xadrez e Mercado de Ações, pois nos
dois casos os desafios a serem superados consistem em reconhecer conjuntos de padrões
complexos formados pelo entrelaçamento de padrões mais simples, e avaliar corretamente de
que modo estes padrões se repetem ou deixam de se repetir. Devido a esta semelhança, a
evolução que enxergo para o futuro da Análise Científica de Investimentos (antiga Análise
Técnica) é similar à que ocorreu no Xadrez, não no âmbito lúdico, mas no âmbito heurísticognosiológico.
Os métodos de sucesso que serão usados no futuro devem considerar maior
quantidade de padrões primários, devem balancear com mais acurácia a importância relativa
destes padrões, bem como das inter-relações entre uns e outros, para compor padrões mais
complexos e tão personalizados quanto possível, considerando as particularidades de cada
situação. Atualmente os investidores não levam em consideração as particularidades de cada
situação, tratando casos semelhantes como se fossem idênticos. Tratam o mercado como se
fosse uma receita de bolo, o que é mais do que um erro: é um crime do ponto de vista
intelectual, pois representa o assassinato da Criatividade e da Lógica. Duas posições muito
semelhantes no Xadrez, porém com uma pequenina diferença, podem resultar em uma
avaliação totalmente diferente. O mesmo acontece nos padrões de gráficos de preços.
Algumas diferenças são muito relevantes, outras nem tanto. Há diferentes níveis de
importância para relacionar como os padrões interagem, e não se pode negligenciar isso sem
que haja implicações desastrosas. Não se pode tentar vestir, sobre um pseudfractal, uma
máscara grosseira de linhas retas, acreditando que isso lhes permitirá adivinhar o futuro. Isso é
uma visão ingênua. Como punição por julgarem que o mercado de ações seja tão simplório,
alguns são punidos com o prejuízo, outros são punidos com lucros miseravelmente pequenos.
Tenta-se usar regrinhas elementares para tomar decisões em situações extremamente
complexas, e é natural que com isso se cometem erros atrás de erros. Na década de 1960, as
engines de Xadrez cometiam erros tão primários quanto as atuais redes neurais especializadas
em investimentos cometem atualmente. Mas as engines de Xadrez evoluíram muito e hoje nem
os melhores jogadores do mundo conseguem superar as melhores engines de Xadrez; assim
será com as melhores máquinas de investimento num futuro próximo, e espero contribuir
decisivamente para isso. Claro que esta evolução na capacidade de prognosticar com exatidão
preços e prazos terá um forte impacto, e à medida que mais e mais investidores começarem a
usar as mesmas máquinas, ocorrerá uma maior homogeinização dos níveis de desempenho.
Isso não significa que a bolsa será extinta, porque o feeling individual do analista humano
inteligente continuará sendo um precioso diferencial que o tornará superior ao analista humano
menos capacitado, aquele que apenas segue o que a máquina recomenda ou repete os
procedimentos que memorizou. O analista criativo e perspicaz saberá predizer as manobras
tradicionais das máquinas, que são padronizadas, tal como acontece no Xadrez Epistolar, e
com isso levará vantagem. Com a crescente disseminação dos computadores pessoais, mais e
mais jogadores começaram a alcançar resultados expressivos no Xadrez Epistolar, reduzindo o
abismo que os separava dos jogadores top-mundiais, contudo não há como alcançar os topmundiais,
porque as mesmas máquinas estão disponíveis a todos. Os amadores podem
apenas reduzir a proporção de forças: o conjunto “Mestre + PC” é mais forte do que “Amador +
PC”, porém a proporção entre eles é menor do que entre Mestre e Amador (ambos sem PC).
Uma analogia simplista: se a força do PC é 10, do Mestre é 10 e do Amador é 1, o Mestre é 10
vezes mais forte que o Amador, porém o Mestre + PC não chega a ser 2 vezes mais forte do
que Amador + PC (supondo total sinergia de pessoa + máquina nos dois casos). O mesmo
sucederá no mercado de ações, causando uma progressiva queda na volatilidade de todos os
ativos, como previsto pelo nosso amigo Carlos Mourão.
O futuro da análise de mercado, portanto, dependerá de máquinas capazes de reconhecer
padrões simples, balanceá-los por relevância, identificar de que modo estes padrões interagem
para formar padrões mais complexos e usar um algoritmo acurado para balance estes padrões
mais complexos, por relevância, e finalmente considerar o conjunto dos dados para predizer o
comportamento do mercado. As diferenças em relação ao que se está fazendo hoje são brutais.
Atualmente ou se usam indicadores mal parametrizados e mal calibrados ou se usa meia dúzia
de padrões simples para tentar representar uma enormidade de padrões complexos. Os
primeiros a implementar um método inteligente e eficiente para prognósticos corretos sairão na
vanguarda. Com ações, operando com métodos decentes, estimo que seja possível ganhar, no
início, 10% ao mês. Com opções estimo que seja possível ganhar 50% ao mês no início e
rapidamente aumentar estes ganhos com a otimização do método. Vou iniciar um projeto com
este propósito e em breve veremos os resultados.
Jesse Livermore é o maior ícone da história de Wall Street. Saiu de casa aos 14 anos, com 5
dólares no bolso, e foi trabalhar numa corretora. Graças a seu notável talento natural, em
pouco tempo se tornou um dos investidores mais bem sucedidos da história. Em 1907 reuniu
uma fortuna de 3 milhões de dólares. Antes da quebra de bolsa de Nova Iorque, em 1929,
Livermore tinha 100 milhões de dólares, o que o situava entre os homens mais ricos do mundo
na época. Ao longo de sua vida, conquistou e perdeu 4 vezes fortunas multimilionárias. Em
1940, após sua última perda, suicidou-se. Livermore deixou um legado bibliográfico que é
seguido por muita gente, e uma de suas frases mais famosas é: “A chave para a fortuna no
mercado é a simplicidade.” Esta frase tem sido repetida tantas vezes, sem ser submetida a
uma avaliação crítica, que se tornou um dogma. Até aí, não há grandes problemas, porque na
Ciência, na Arte, no Esporte e nos Negócios a simplicidade realmente é muito importante,
desde que compreendida corretamente. Antonio Ermírio de Moraes, por exemplo, costuma
dizer que “o último degrau da sabedoria é a simplicidade”. O maior artista marcial do século
XX, Bruce Lee, dizia que o segredo de sua técnica era a simplicidade. Um dos maiores
enxadristas de todos os tempos, José Raúl Capablanca, foi também um dos jogadores de estilo
mais simples da história. O que isso tudo nos diz? A resposta é: nada. Isso não nos diz nada.
Kasparov tem estilo complexo e tem rating histórico superior ao de Capablanca. Alekhine tinha
estilo complexo e tomou o título mundial de Capablanca. Bill Gates é o homem mais rico do
mundo graças a vários fatores combinados, alguns dos quais muito complexos. Várias grandes
invenções e descobertas envolvem um nível muito alto de complexidade. As pessoas
geralmente confundam simplicidade com simploriedade, o que constitui um erro muito grave.
Além disso, as pessoas geralmente não possuem uma boa escala de valores e se perdem ao
estabelecer quais prioridades devem ser seguidas. É muito importante compreender
corretamente o conceito de simplicidade e o quanto se deve priorizá-la. Quando duas soluções
conduzem a resultados aproximadamente equivalentes, geralmente é melhor optar pelo
caminho mais simples. Mas quando uma das soluções conduz a um resultado sensivelmente
melhor, não importa qual dos caminhos é o mais simples, deve-se buscar a solução mais
eficiente. Em outras palavras, a simplicidade é um bom critério complementar, porém não é o
principal. Quando se trata de negócios, a eficiência deve ser o segundo critério mais importante,
sendo sempre a Ética o primeiro de todos os critérios.
O culto à simplicidade tem muito mais chances de causar desastres do que conduzir ao
sucesso. A simplicidade deve ser buscada na medida certa, nas ocasiões certas e da maneira
certa. O excesso de simplicidade denuncia falta de competência para reconhecer situações
que exigem soluções complexas, falta de capacidade para lidar com a complexidade e falta de
coragem para enfrentar os desafios mais difíceis.
Se comparamos a maneira como se jogava Xadrez no século XV à maneira como se joga hoje,
perceberemos que uma das diferenças mais marcantes diz respeito à quantidade padrões
conhecidos e à relevância comparativa destes padrões. No século XV, não se compreendia
corretamente conceitos como domínio do centro, desenvolvimento e estrutura de Peões. Só se
compreendia o conceito de segurança dos Reis e se jogava para atacar a todo custo, sem que
houvesse justificativas estratégicas que respaldassem os ataques, não havia o processo
preliminar de debilitar a posição inimiga e de criar alvos reais de ataque. Simplesmente se
atacava por “vontade” de atacar, pouco importando se esta vontade se fundamentava em fatos
concretos pertinentes à configuração das peças e à estrutura dos Peões. No início do século
XVII, com Gioacchino Greco, começou-se a compreender a importância do centro. No século
XVIII; com Philidor, começou-se a compreender a importância das estruturas de Peões; com
Morphy, em meados do século XIX, começou-se a compreender corretamente o conceito de
desenvolvimento, economia de tempo e atividade de peças; com Steinitz, no final do século
XIX, houve uma síntese destes conceitos e foram lançadas as bases do jogo posicional; com
Reti, Nimzowitsch e outros mestres das primeiras décadas do século XX, surgiram novos
conceitos sobre domínio (à distância) do centro, complementando os conceitos tradicionais de
ocupação do centro, e foram refinados vários outros conceitos antigos. Com isso nasceu o
Xadrez Hipermoderno. Com Keres, Tal e Kasparov, na segunda metade do século XX, a
compreensão da relação entre tempo, espaço e material atingiu um grau elevadíssimo, levando
à criação de numerosas novidades teóricas envolvendo pesados sacrifícios de material em
troca de espaço e tempo. Estavam assentadas as bases do Xadrez contemporâneo e se podia
dizer com razoável exatidão se uma Torre a menos equivalia ou não a determinado conjunto de
pequenas vantagens posicionais. Isso possibilitou a criação de algoritmos de inteligência
artificial que convertiam as avaliações subjetivas em números, e desse modo o Xadrez pôde
ser “ensinado” aos computadores. Até então, os computadores usavam heurísticas muito
primárias. Nas décadas de 1950 e 1960, os processos de seleção de lances eram muito
primitivos e geralmente excluíam alternativas (algumas boas ou até as melhores) com base em
análises muito superficiais e critérios impróprios. Nas décadas de 1970 e 1980 os sistemas de
seleção se tornaram mais inteligentes e nas duas últimas décadas foram dados gigantescos
saltos. No início do século XXI, a mais poderosa entidade enxadrística já construída, a Hydra,
representa o que talvez seja o primeiro dos últimos passos na história do Xadrez: com um
algoritmo que reúne a nata dos conceitos estratégicos vigentes e um excelente reconhecimento
de padrões, cujas importâncias são balanceadas de acordo com requintados critérios
estatísticos, pode-se dizer que começamos a nos aproximar ao topo da compreensão dos
fundamentos do Xadrez, pois agora podemos dizer, com grande exatidão, quanto valem,
numericamente, padrões como Peões dobrados e isolados numa coluna semi-aberta, quanto
valem dois Peões centrais móveis e colgantes, quanto vale uma cadeia de 3 peões passados e
unidos contra Torre, contra Bispo bloqueando os Peões, contra Bispo não bloqueando os
Peões etc., quanto vale ter um Bispo contra um Cavalo num final com Peões nas duas alas em
estrutura simétrica ou assimétrica, quanto vale ter maioria na ala afastada dos Reis numa
posição equilibrada de meio-jogo, entre milhões de outros padrões complexos que são
formados pela combinação de algumas poucas dezenas de padrões primários. Sabemos que
basta ter um pequeno conjunto de padrões primários e um algoritmo eficiente e bem calibrado,
capaz de calcular corretamente como os padrões primários se combinam para formar padrões
mais complexos, para com isso atingir a excelência performática. A Hydra, que em junho de
2005 venceu o Super GM Michael Adams (ELO 2747) pelo avassalador escore 5,5 x 0,5,
alcançando ELO acima de 3000, nada mais é do que uma máquina que usa estes padrões
primários e um bom algoritmo. Não é nem sequer o melhor algoritmo. A maioria dos
especialistas (inclusive o próprio criador da Hydra) concorda que o Shredder 9 provavelmente é
a engine que usa as melhores heurísticas da atualidade, seguido, talvez, pelo Fritz Bilbao. A
Hydra talvez tenha apenas um dos 10 melhores algoritmos, mas já é folgadamente suficiente
para bater os melhores humanos do planeta.
O que observamos na Bolsa de Valores nos dias de hoje é muito semelhante à situação do
Xadrez no século XV. As ferramentas e os critérios para apoio aos processos decisórios são de
qualidade muito baixa, tão baixa que usando dois métodos diferentes, ambos supostamente
bons para analisar um mesmo ativo numa mesma data, é freqüente que os dois métodos
entrem em conflito, um recomendando compra e outro recomendando venda. Se houvesse o
mínimo de cientificidade nestes métodos, seria esperado que houvesse univocidade nos
prognósticos, ou, no mínimo, seria esperado que não houvesse contradições tão gritantes. No
Xadrez do século XV assim como na Bolsa moderna há muitos pontos em comum, e o excesso
de simplicidade é um destes pontos. No Xadrez se pensava assim: se o objetivo é o xequemate,
vamos iniciar o jogo empreendendo um ataque direto ao Rei. O que poderia ser mais
simples do que isso? A experiência de 500 anos de algumas das mentes mais privilegiadas do
planeta demonstrou que não funciona desta maneira. O ataque direto ao Rei só faz sentido
depois que se tiver conseguido reunir um conjunto suficiente de pequenas vantagens
posicionais, sem as quais o ataque estará fadado ao fracasso e ainda por cima resultará em
posição inferior, como demonstrou Steinitz há mais de 100 anos. No Mercado de Ações, o
objetivo é comprar o que vai subir e vender antes de despencar. E como uma das premissas
fundamentais da Análise Técnica é que as “tendências persistem”, então compra-se o que está
subindo e vende-se o que está caindo. Não é de todo errado, mas é muito primário e não se
pode usar isso como uma Lei Geral. Há muitos fatores a serem analisados para que se possa
estimar corretamente as probabilidades de que uma determinada tendência seja mantida ou
invertida e durante quanto tempo e em que escala de fragmentação a tendência terá o
comportamento previsto. É preciso compreender a totalidade das informações que o gráfico
está transmitindo para determinar com segurança o que irá acontecer.
Os métodos de análise do Mercado de Ações mal saíram do berço e os analistas estão com
um pé prestes a entrar na Ciência, enquanto o resto do corpo ainda permanece atolado num
esoterismo medieval. Só há pouquíssimo tempo é que se começou a usar Redes Neurais e
Geometria Fractal para predizer o comportamento dos preços, e o uso ainda está sendo feito
num nível muito precário, geralmente com Redes Neurais desprovidas de conteúdo heurístico
(usa-se apenas força bruta), ou, na melhor das hipóteses, com heurísticas tão rústicas que
provocariam risos nos desenvolvedores de engines de Xadrez da década de 1970. Os que
usam fractais geralmente levam em conta apenas as maiores escalas de fragmentação dos
maiores fractais (ou pseudofractais, para ser rigoroso), sem usar Análise Fatorial Hierárquica e
Nuvens Dinâmicas para aproveitar informações sobre entrelaçamento com fractais de diversos
tamanhos e diversas escalas de fragmentação. Isso sem falar na fé cega que se costuma
depositar em que o mercado inteiro se comporta formando padrões nos quais se possa
encontrar a razão áurea de Fibonacci. De fato, na natureza podemos observar proporções de
Fibonacci com mais abundância do que outras proporções, mas isso não significa que sempre
teremos uma relação de Fibonacci. Se estamos trabalhando com uma miscigenação de
pseudofractais em que emergem características que denotam curvas de Kock, por exemplo,
que são muito abundantes nos gráficos de preços, as proporções de 0,667 são muito mais
exatas do que 0,618033... Logo não faz sentido usar Fibonacci nestes casos, e o erro de quem
insiste em usar Fibonacci causa-lhes graves prejuízos. Por isso é fundamental que se saiba
onde se está pisando, em vez de dogmaticamente confiar na lenda de que usando Fibonacci
se conseguirá predizer proporções em toda parte. A razão harmônica de Fibonacci é uma
generalização exacerbada que só tem utilidade para pessoas que conhecem apenas o mínimo
e têm preguiça de aprender mais, pois querem lucrar algo com este mínimo de conhecimento,
e tentam encaixar, à força, os níveis de Fibonacci em qualquer lugar, pouco importando se o
encaixe é possível ou não. Quando se encaixa mediocremente, trabalha-se fingindo que se tem
ali uma proporção de Fibonacci, e se faz um cálculo grosseiro, alcançando um nível igualmente
grosseiro de acerto, ao passo que se poderia refinar muito o cálculo usando a proporção
verdadeira, medida experimentalmente, e ajustando-se a estes dados um modelo teórico
apropriado. Quando Fibonacci não se encaixa de jeito nenhum no gráfico dos preços, renunciase
a operar com aquela ação “exótica” por não se conseguir compreendê-la, desperdiçando,
com isso, extraordinárias oportunidades de ganhos gigantes, simplesmente por falta de
conhecimento. É um erro crasso usar Fibonacci como uma panacéia para todos os problemas,
mas é isso que fazem praticamente todos os analistas, desde o estudante de Economia até o
professor emérito que está há décadas ensinando errado a seus alunos de pós-doutorado. Por
analogia, é como alguém que usa um martelo para tudo, desde pregar pregos, que é uma
utilidade legítima, até abrir latas de ervilha, colocar parafusos e limar facas. Para quem
conhece chaves de fenda, abridores de lata e esmeril percebe que não se pode usar martelo
para tais finalidades, ou melhor, não é que não se pode, mas isso não seria muito inteligente ☺.
Por outro lado, quem não conhece nenhuma ferramenta além do martelo pode optar entre as
seguintes alternativas:
1 – Aprender a usar outras ferramentas mais apropriadas.
2 – Usar o martelo, mesmo ele não sendo a ferramenta adequada, com prejuízos óbvios.
3 – Renunciar ao problema, dando-o por insolúvel, pois pensam que se o problema não pode
ser resolvido com martelo, é porque nada no universo pode resolver tal problema. ☺
O Fibonacci é o martelo do Mercado de Ações. Por sua simploriedade e pela facilidade de uso,
o “Fibo” – como chamam os que se consideram mais íntimos – conquistou grande popularidade,
pois com os softwares atuais, basta ter a coordenação motora necessária para mover o mouse
e clicar nos botões para que se possa desenhar retas e níveis de Fibonacci. Não há nenhum
mal nisso. Outras ferramentas mais complexas e muito mais eficientes também estão ao
alcance de todos com apenas manuseio do
mouse. O problema é que os softwares de
análise de mercado não incorporam estas
ferramentas. Mas por que não? Eu ainda não sei.
Pelo que pude apurar até agora, os que
produzem softwares não têm interesse em
investir, mas apenas em lucrar com venda de
softwares, e para eles não há necessidade de
oferecer nenhum recurso além daqueles que os
clientes possam esperar encontrar. Se os clientes
estão satisfeitos com Candle Sticks, Médias
Móveis e Fibonacci, para que incluir outros
recursos? E, do ponto de vista dos clientes, se
Livermore ensinava que se deve buscar a
simplicidade, é claro que isto deve ser acatado, e
o que poderia ser mais simples do que traçar
retas? É isso. Mas para que não ficasse tão
ridiculamente simples, os seguidores desta
doutrina inventaram numerosos rituais, alguns tão
sofisticados quanto os da Igreja Católica, e por
meio destas cerimônias acreditam conferir mais
poder e legitimidade ao uso destas ferramentas, com destaque para os níveis de Fibonacci.
Seguem estes rituais à risca, com instruções do tipo: “quando
romper a resistência de R$ 35,67 eu compro, e quando atingir a o
nível 61,8% eu vendo.” E lá se vai o pobre coitado, com sua fé
inabalável, em busca do Santo Graal. Algumas vezes realmente
funciona, já que algumas estruturas geométricas que determinam a
forma dos gráficos dos preços realmente se baseiam em
proporções de Fibonacci, então estes fanáticos religiosos
comemoram, extasiados, o sucesso de 60% a 80% de acertos,
sem procurar compreender porque estão errando em 20% a 40%
dos casos e sem tentar melhorar estes índices de acertos. Uma
completa apologia à tradição burra e à repetição mecânica. É o
triste conformismo com a mediocridade, é o medo do crescimento.
Em contraste, quem tem ambição de prosperar, quem tem real
interesse em lucrar o máximo possível, expande seus horizontes,
em vez de se limitar ao uso de Fibonacci, e com mais
conhecimentos se torna capaz de reconhecer uma variedade muito maior de padrões, além de
refinar tremendamente o cálculo e conseqüentemente aumentar o índice de acertos, pois terá à
sua disposição um farto leque de possibilidades, entre os quais poderá escolher aquele que
melhor se ajusta aos fatos observados. Onde se encaixam com boa aderência fractais
semelhantes a uma curva de Koch (porém com apenas um y para cada x, é claro), é óbvio que
é melhor usar uma proporção de 0,667 em vez de 0,618 [para evitar multiplicidade de valores
de y para cada x, além de obter melhor aderência, é suficiente que a curva de Koch seja
proveniente de uma superfície Riemanniana, com coordenadas polares, e seja representada
num plano por uma projeção de Mercator]. Onde se encaixa o contorno de uma ilha de
Sierpinski com boa aderência, é óbvio que a proporção deve ser 0,5 em vez de 0,618 e assim
por diante. Antes de tentar enfiar um Fibonacci em qualquer lugar, é necessário verificar se ele
cabe corretamente, ou seja, é necessário conferir se a razão áurea de fato está presente no
caso analisado, ou se alguma outra relação de proporção seria mais apropriada para aquele
caso. É preciso investigar a realidade tal como ela é, examinando os fatos, em vez de
simplesmente fingir que a realidade é exatamente como nos contos de fadas estudados nas
cartilhas. Nos textos didáticos sobre investimentos, todos os exemplos são escolhidos a dedo
para demonstrar que Níveis de Fibonacci, Índice de Força Relativa, Ondas de Elliot, Bandas de
Bollinger e Médias Móveis funcionam maravilhosamente. Não é culpa dos autores destes livros.
Em todo livro didático é preciso escolher exemplos claros em que as coisas funcionam como
deveriam, a fim de tornar o aprendizado mais fácil. O erro não é dos autores, mas sim de quem
lê e acata cegamente, como algo absoluto e imutável, sem compreender nada e sem submeter
a técnica a um exame crítico. Algumas questões muito simples podem ser úteis nestes casos: o
método funciona? Por quê? Como? Qual o âmbito de aplicação? De que modo poderia
funcionar melhor? De que modo poderia funcionar em casos mais gerais ou mais particulares?
Estas são perguntas pertinentes, necessárias, que todos deveriam fazer, mas pouquíssimos
efetivamente fazem.
Para operar com sucesso no Mercado é imprescindível compreender o que se está fazendo e
porque se está fazendo daquela maneira, caso contrário, fica-se impossibilitado de corrigir
eventuais distorções e revisar ou refinar uma decisão inicialmente incorreta ou imprecisa. A
esmagadora maioria dos profissionais da área opera como se os deuses (“tubas”) ditassem
seus destinos, de modo imprevisível e misterioso, enquanto os pobres mortais apenas poucas
vezes pudessem predizer o futuro, usando astrologia e algum golpe de sorte. Se o tamanho de
uma oscilação não é conforme previsto pelo uso de Fibonacci, a explicação é óbvia: “isto é
coisa dos tuba!” A explicação é sempre a mesma. Toda vez que o martelo (Fibonacci) não
funciona para descascar uma laranja, a culpa é dos tuba. Talvez alguém pudesse cogitar a
possibilidade de usar uma ferramenta melhor para descascar a laranja. “Oh, não!” Pensam os
conservadores. “Isto seria heresia! Se todos os grandes sábios do Mercado estão usando
Fibonacci há tantos anos, e todos sabem que quando Fibonacci não funciona, é por culpa dos
tuba, para que precisamos de outra ferramenta? Para que precisamos de outra explicação?” E
assim permanecem enterrados até o pescoço em suas crendices, nutrindo-as com vãs
explicações baseadas em deuses que manipulam o mercado e cujas intenções são
imprevisíveis. Realmente, com as ferramentas que se usam no Mercado, não se está muito
longe da mitologia grega, mas se fossem usadas ferramentas e métodos apropriados, poderse-
ia atingir um nível muito mais elevado de acertos. Claro que mesmo com excelentes
ferramentas não haveria como fazer previsões exatas, mas ao menos seria possível diminuir
muito a incerteza e aumentar muitíssimo os lucros. E o melhor método que posso conceber
para isso guarda íntima relação com os processos cognitivos que norteiam a escolha dos
melhores lances no Xadrez. Processos decisórios politômicos ou politomizados em situações
complexas podem variar na aparência, mas são basicamente iguais na estrutura lógica
subjacente. Tanto faz se o problema é administrativo, científico, enxadrístico ou econômico, as
heurísticas usadas para solucioná-lo são, na essência, praticamente as mesmas. A Lógica e a
Criatividade não servem apenas para inventar a televisão e o computador, ou para compor
poemas e canções. Servem para praticamente tudo. Todo problema, especialmente aqueles
que envolvem números, gráficos, variações complexas dos números em função de numerosos
parâmetros, podem ser minuciosamente investigados, compreendidos e solucionados à luz da
Lógica e da Matemática, podendo ainda ser enriquecidos com o brilho da Criatividade.
Tenho observado uma extraordinária semelhança entre Xadrez e Mercado de Ações, pois nos
dois casos os desafios a serem superados consistem em reconhecer conjuntos de padrões
complexos formados pelo entrelaçamento de padrões mais simples, e avaliar corretamente de
que modo estes padrões se repetem ou deixam de se repetir. Devido a esta semelhança, a
evolução que enxergo para o futuro da Análise Científica de Investimentos (antiga Análise
Técnica) é similar à que ocorreu no Xadrez, não no âmbito lúdico, mas no âmbito heurísticognosiológico.
Os métodos de sucesso que serão usados no futuro devem considerar maior
quantidade de padrões primários, devem balancear com mais acurácia a importância relativa
destes padrões, bem como das inter-relações entre uns e outros, para compor padrões mais
complexos e tão personalizados quanto possível, considerando as particularidades de cada
situação. Atualmente os investidores não levam em consideração as particularidades de cada
situação, tratando casos semelhantes como se fossem idênticos. Tratam o mercado como se
fosse uma receita de bolo, o que é mais do que um erro: é um crime do ponto de vista
intelectual, pois representa o assassinato da Criatividade e da Lógica. Duas posições muito
semelhantes no Xadrez, porém com uma pequenina diferença, podem resultar em uma
avaliação totalmente diferente. O mesmo acontece nos padrões de gráficos de preços.
Algumas diferenças são muito relevantes, outras nem tanto. Há diferentes níveis de
importância para relacionar como os padrões interagem, e não se pode negligenciar isso sem
que haja implicações desastrosas. Não se pode tentar vestir, sobre um pseudfractal, uma
máscara grosseira de linhas retas, acreditando que isso lhes permitirá adivinhar o futuro. Isso é
uma visão ingênua. Como punição por julgarem que o mercado de ações seja tão simplório,
alguns são punidos com o prejuízo, outros são punidos com lucros miseravelmente pequenos.
Tenta-se usar regrinhas elementares para tomar decisões em situações extremamente
complexas, e é natural que com isso se cometem erros atrás de erros. Na década de 1960, as
engines de Xadrez cometiam erros tão primários quanto as atuais redes neurais especializadas
em investimentos cometem atualmente. Mas as engines de Xadrez evoluíram muito e hoje nem
os melhores jogadores do mundo conseguem superar as melhores engines de Xadrez; assim
será com as melhores máquinas de investimento num futuro próximo, e espero contribuir
decisivamente para isso. Claro que esta evolução na capacidade de prognosticar com exatidão
preços e prazos terá um forte impacto, e à medida que mais e mais investidores começarem a
usar as mesmas máquinas, ocorrerá uma maior homogeinização dos níveis de desempenho.
Isso não significa que a bolsa será extinta, porque o feeling individual do analista humano
inteligente continuará sendo um precioso diferencial que o tornará superior ao analista humano
menos capacitado, aquele que apenas segue o que a máquina recomenda ou repete os
procedimentos que memorizou. O analista criativo e perspicaz saberá predizer as manobras
tradicionais das máquinas, que são padronizadas, tal como acontece no Xadrez Epistolar, e
com isso levará vantagem. Com a crescente disseminação dos computadores pessoais, mais e
mais jogadores começaram a alcançar resultados expressivos no Xadrez Epistolar, reduzindo o
abismo que os separava dos jogadores top-mundiais, contudo não há como alcançar os topmundiais,
porque as mesmas máquinas estão disponíveis a todos. Os amadores podem
apenas reduzir a proporção de forças: o conjunto “Mestre + PC” é mais forte do que “Amador +
PC”, porém a proporção entre eles é menor do que entre Mestre e Amador (ambos sem PC).
Uma analogia simplista: se a força do PC é 10, do Mestre é 10 e do Amador é 1, o Mestre é 10
vezes mais forte que o Amador, porém o Mestre + PC não chega a ser 2 vezes mais forte do
que Amador + PC (supondo total sinergia de pessoa + máquina nos dois casos). O mesmo
sucederá no mercado de ações, causando uma progressiva queda na volatilidade de todos os
ativos, como previsto pelo nosso amigo Carlos Mourão.
O futuro da análise de mercado, portanto, dependerá de máquinas capazes de reconhecer
padrões simples, balanceá-los por relevância, identificar de que modo estes padrões interagem
para formar padrões mais complexos e usar um algoritmo acurado para balance estes padrões
mais complexos, por relevância, e finalmente considerar o conjunto dos dados para predizer o
comportamento do mercado. As diferenças em relação ao que se está fazendo hoje são brutais.
Atualmente ou se usam indicadores mal parametrizados e mal calibrados ou se usa meia dúzia
de padrões simples para tentar representar uma enormidade de padrões complexos. Os
primeiros a implementar um método inteligente e eficiente para prognósticos corretos sairão na
vanguarda. Com ações, operando com métodos decentes, estimo que seja possível ganhar, no
início, 10% ao mês. Com opções estimo que seja possível ganhar 50% ao mês no início e
rapidamente aumentar estes ganhos com a otimização do método. Vou iniciar um projeto com
este propósito e em breve veremos os resultados.
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