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segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

O Peão Branco

De repente, sou jogado num terreno estranho. Terras claras e terras escuras alternam-se no meu visual.Outros amigos me acompanham. Uns, irmãos, simples, pobres, como eu. Outros, gente mais rica, forte, com uniformes vistosos, armados. Eu, meus irmãos, apenas a força dos nossos braços acostumados ao trabalho rude.O campo é vasto, alternam-se as terras brancas e as negras.Uma mão, sobre minha cabeça, me empurra à frente: - vá, lute!À minha frente, se posta, a seguir, um outro irmão, um irmão negro.Abraçamos-nos, incapazes de nos matar. Choramos por nossa desdita, irmãos lutando contra irmãos.Logo passa um amigo nobre, vastas roupas, mas caminha sempre nas mesmas cores de terreno, nas terras brancas.E os negros, humildes ou nobres, também se movem. Brancos tentam matar negros e vice-versa.Mesmo pacifista, sou forçado a alijar um irmão negro, depois um nobre. Triste sina!Meus ancestrais devem estar se envergonhando de mim. Uns hoje são mesas, cadeiras, grandes armários, portas entalhadas. Eu, um mero soldado, simples, pobre, desarmado, pronto a defender um nobre que nem conheço.Mas, volto à realidade e a voz de um irmão mais atrasado me diz:– caminhe, você poderá ser também um nobre, um general, que tem armas terríveis, ou um parrudo forte parece feito de pedra, que caminha num vaivém para frente e para trás, para um ou outro lado, Ou num cavaleiro, com cavalo e tudo, que salta sobre os outros, que esperneia e dá coices mortais. Ou, lembre-se daquele que só gosta de uma cor, com aquelas vestes imensas, que diz que é religioso, mas que é também capaz de matar?E posso ser rei? – Pergunto.Não, rei você nunca será. Rei só existe um. Se ele morrer, a guerra acaba. Mas acaba numa boa.O grande irmão do rei, que faz com que tenhamos vida, a esse não acontece nada. Às vezes ele chora, se lamenta, blasfema e diz palavrões.Escuto o conselho e um alento me faz caminhar.Vejo negros, irmãos e nobres, tombando. Vejo a súplica no olhar do meu atrasado irmão, ferido de morte pela espada de um negro que odeia as terras brancas. Meu irmão sussurra: vá, lute por nós!Pronto, estou a um passo da nobreza.Um amigo forte e redondo, de pedra, longe e por trás de mim grita:– caminhe, caminhe, será um general, que orgulho!Vejo-me, agora, imerso num mundo de sonhos. Serei um general, com estrelas, armas poderosas, respeitado, podendo ir para qualquer lado, para trás e para frente, para qualquer lado.Um general. Um pobre soldado, um peão que virou um general.Dou o passo final!General, general, general!Mas, no delírio da minha promoção, esqueço do coice do cavalo negro, sou atingido mortalmente.Oh! Por que fiz o que o forte e redondo me incitou a fazer?Estou morrendo!Mas este mesmo amigo (amigo?) forte e redondo vinga-me e mata o cavaleiro e o cavalo negro, e o rei negro curva-se, arremessa-se ao chão, derrotado, e a guerra termina.O grande irmão branco e o grande irmão negro cumprimentam-se, levantam-se e deixam naquelas terras brancas e negras, soldados humildes, valorosos nobres, caídos, mortos, velados por outros soldados e nobres, brancos e negros, mas já, agora, todos os irmãos.O grande irmão branco comemora: - aquele meu ultimo peão sacrificou-se pela minha vitória!!Meu espírito, que flutua sobre a eternidade, fica feliz: - minha morte valeu!!


Manoel AC Migueis

Um comentário:

Anônimo disse...

É incrível como uma simples partida de xadrez, pode traduzir tantas emoções, sentimentos da nossa vida diária. Mais um motivo, pelo qual devemos divulgar e incentivar essa Obra-Prima do Homem.